domingo, 27 de julho de 2008

MANTEIGAS: LOCAL DE ENCANTO






"Encostada na margem esquerda
do rio Zêzere, desde cedo
que a natureza marcou as vidas
de quem por ali edificou.
Numa encosta virada a sul, o clima
favoreceu o enraizamento de quem
viu na riqueza natural um modo de
vida. A pastorícia e a agricultura desenharam
a história de um povo que
não se sabe muito bem quando surgiu
por aquelas bandas. Mesmo a discussão
à volta do topónimo atribui
uma génese envolta em mistério. Por
outro lado, o decorrer do tempo não
trouxe testemunhos monumentais
que pudessem servir de base a um
enquadramento preciso e consistente.
Da história ou das lendas, conta-
se que o imperador Júlio César
passou com uma legião pelas terras
de Manteigas 50 anos a.C.. Do ponto
de vista documental, foi D. Sancho I
que em 1188 concedeu o primeiro foral
à vila tendo posteriormente D.
Manuel I outorgado o Foral Novo,
que data de 4 de Março de 1514.
A única certeza que se pode ter é o
facto de as gentes de Manteigas terem
construído uma vida em redor
daquilo que a Serra da Estrela oferece.
Situada em pleno coração da serra,
ao fundo do mais antigo vale glaciar
da Europa, a vida das povoações
acompanhou o ritmo de uma natureza
nem sempre generosa. Mas generosa
foi a vida destas pessoas junto
de um curso de água que serviu para
proporcionar uma agricultura rica
de produtos, ofereceu condições para
o desenvolvimento do pastoreio e,
com ele, um conjunto de actividades
que serviram de base ao desenvolvimento:
a indústria dos lanifícios.
Se o fenómeno da transumância
permitiu a sobrevivência de rebanhos,
o queijo da serra e a lã catapultaram
Manteigas. Eram incontáveis
as pequenas e grandes unidades de
transformação de lã, bem como os
produtores genuínos de queijo da
serra. Hoje é cada vez mais difícil retomar
o curso de um passado que teima
em permanecer na memória das
gentes. Mesmo assim é com agrado
que se regista o alvorecer de um pensamento
de desenvolvimento sustentado
que atribui ao município o melhor
índice de qualidade de vida do
País. É que a natureza permanece
uma das principais parceiras de projectos
que podem representar a mudança
que se espera.
DESFRUTE A PAISAGEM
O património natural preservado
tem constituído forte aposta de desenvolvimento.
A envolvência da vila
é um palco privilegiado para descobertas
em família. Os trajectos que
propomos são disso um bom exemplo.
Tenha como ponto de partida a
Câmara Municipal de Manteigas.
A primeira sugestão leva-o à parte
mais alta do concelho. Siga na direcção
da Torre pela EN. 338. Aproveite
para se deliciar com o enquadramento
do vale glaciar do rio Zêzere,
candidato a Património Mundial da
UNESCO. No desvio para o centro de
férias do Inatel terá acesso às termas
de Manteigas. O aproveitamento
de águas termais serviu desde sempre como pólo de atracção de
muitos visitantes que ao longo dos
anos fizeram da qualidade das
águas um motivo para uma visita à
vila. Depois de passar a ponte com
um arco tem à sua frente um dos
testemunhos vivos do que foi a economia
do concelho. Trata-se da Casa
de Roda, uma antiga fábrica que
conserva ainda hoje parte do mecanismo
de funcionamento, incluindo,
na parte lateral, uma enorme roda
movida pela força das águas. Logo
da parte de cima, o viveiro de trutas
é outro motivo para que possa
desfrutar de um belo momento de
visita. Prosseguindo pela EN338 começa
a embrenhar-se em pleno vale.
Apesar da estrada ser estreita,
aproveite para observar alguns
exemplares genuínos que restam
das edificações típicas que serviram
de habitação a pastores. Aqui e ali
ainda se ouve o chocalhar de algum
rebanho a pastar nos lameiros nas
margens do Zêzere. A paisagem torna-
se impressionante por alturas da
Fonte Paulo Luís Martins, antes da
curva do Covão da Ametade. Detenha-
se por mais uns instantes e visite,
na base do Cântaro Magro, um
local paradisíaco que acolheu a nascente
do rio Zêzere. Já a caminho do
alto aproveite para tirar mais umas
fotografias sobre o vale e aprecie o
trabalho de reflorestação que está a
ser executado na defesa do património
natural. Já perto do cruzamento
para a Torre desfrute da paisagem
sobre a Nave de Sto. António
e sobre o maciço granítico da Torre.
O segundo trajecto leva-o a visitar
um monumento natural único: o
Poço do Inferno. Deverá seguir na
mesma direcção da Torre, mas, logo
a seguir ao viveiro de trutas, vire à
esquerda por uma estrada que percorre
um património florestal onde
o pinheiro e o carvalho predominam.
Após meia dúzia de quilómetros
está no Poço do Inferno, uma
cascata de beleza ímpar.
A terceira sugestão leva-o às Penhas
Douradas. Junto ao jardim municipal,
à entrada da vila e perto da
sede do Parque Natural da Serra da
Estrela, siga pela EN 232 em direcção
às Penhas Douradas. O encaracolar
da estrada por entre uma
paisagem bucólica serve de pano de
fundo ao desenrolar de imagens que
se conservam no tempo. Depois da
pousada há um cruzamento que o
levará às Penhas Douradas. Este local,
que urge preservar nas suas características
históricas, é o retrato
fiel de finais do séc. XIX e de todo o
séc. XX, com uma arquitectura peculiar
e que serviu de refúgio a muitas
pessoas que viram na Serra da
Estrela o melhor local do mundo para
viverem momentos de prazer em
plena natureza. De todo o património
edificado, a casa do republicano
Afonso Costa, junto do miradouro
do Fragão do Corvo, merece
uma visita, onde a vista se “derrete”
com o enquadramento…
Do percurso TT, a destacar o perfeito
envolvimento com a natureza.
O trajecto é simples, requerendo algumas
cautelas na circulação durante
o Inverno dado que, devido à
altitude, poderá encontrar neve na
parte inicial; a travessia do rio Zêzere
junto a Sameiro só poderá ser
feita se o caudal do rio o permitir; e
a subida pela calçada Afonso Costa,
depois de Manteigas, onde deverá
circular com a máxima prudência.
Este percurso tem início, seguindo
pela EN 338, no cruzamento para
terra, à esquerda, antes da Nave da
Sto. António, na direcção de Chão
de Celorico. Para acompanhar este
percurso basta seguir o road book
que preparámos – pode fazer o
download em www.oje.pt.
A visita a Manteigas passa ainda
por um passeio obrigatório pelas
ruas da vila, testemunhos vivos de
um passado de mãos dadas com as
gentes. Do património edificado a
destacar as duas igrejas matrizes, a
da Misericórdia (séc. XVII) e o solar
da Casa das Obras (séc. XVIII) com
quadros a óleo dos sécs. XVIII e XIX.
E, para os momentos de tranquilidade,
nada melhor que provar os
pratos de uma gastronomia que
privilegia os sabores típicos de
montanha. São exemplo disso os
enchidos regionais, os pratos de feijocas
e de cabrito, o caldudo, as trutas
e os peixes do rio, o leite-creme,
o mel, o arroz doce, o requeijão e,
claro, o genuíno queijo da serra. E
pode sempre levar de recordação
alguns exemplares de um artesanato
que retrata o quotidiano das
gentes da serra, como as mantas e
peças de roupa em de lã, mantas de
farrapos e alguns trabalhos em urze
e em madeira." in Jornal OJE de 4 de Julho de 2008 eem colaboração com WWW.RITUAIS.NET

P.S: Como chegar???
Do sul a A23 proporciona uma rápida chegada até
Belmonte, onde deve seguir a E.N. 232 em direcção
a Manteigas. Do norte a A25 é a via mais rápida
até à Guarda, onde apanha a A23 em direcção a sul,
saindo também em Belmonte.